Novo artigo publicado na revista científica Environmental Research Letters demonstra como pesquisadores do SEEG (Sistema de Estimativa de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa) tem gerado dados mais precisos, robustos e frequentes, unindo as metodologias oficiais e os mapas anuais produzidos na Rede MapBiomas. As mudanças na forma como são medidas as emissões de gases de efeitos estufa facilitam o cumprimento de metas e colocam o Brasil como referência na área.
A nova metodologia busca considerar todos os processos de uso da terra, como recuperação, mudanças entre usos da terra, assim como o desmatamento, em uma série anual e com dados completos a nível municipal.
“A publicação dos dados por município permite que tomadores de decisão tenham acesso aos padrões com o detalhamento temporal e espacial de que precisam para planejar e monitorar os resultados de ações de mitigação específicas. Mais do que apontar o dedo para os municípios mais emissores, o objetivo é engajar o poder público municipal na busca por soluções. A comprovação desse potencial, por exemplo, foi o convite que recebemos por parte da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Altamira (PA), o município mais emissor em 2022, para apresentar aos técnicos as ferramentas disponíveis”, diz Bárbara Zimbres, autora do artigo que apresenta o método.
O Brasil ocupa o quinto lugar em emissões de gases de efeito estufa em todo o mundo devido, principalmente, às mudanças no uso da terra. Como signatário do Acordo de Paris, o país deve reportar periodicamente suas emissões, bem como apresentar metas de mitigação estabelecidas na Contribuição Nacionalmente Determinada. A Iniciativa SEEG gera estimativas independentes de emissões e remoções de gases desde 2013 e, a partir de 2020, o método de estimativa para o setor de mudança no uso da terra foi aprimorado.
Emissões brasileiras
No Brasil, 44% das emissões de gases de efeito estufa são causadas pela mudança no uso da terra, sendo 95% disso causado apenas pelo desmatamento. Segundo o sexto relatório do IPCC (Painel Internacional sobre Alterações Climáticas), publicado em 2022, 45% das emissões causadas por mudanças no uso da terra em todo o mundo são causadas pela perda de vegetação nativa.
Em 2011, as emissões decorrentes de mudanças no uso da terra atingiram 687 milhões de toneladas de CO2, mas o pico da categoria ocorreu em 2003, quando foram emitidas 2,1 bilhões de toneladas. Nos últimos anos, observa-se uma tendência de aumento, diminuindo a probabilidade do Brasil cumprir suas metas internacionais. O artigo ressalta, no entanto, que se o país conseguir conter o seu desmatamento, as emissões provenientes do setor de mudança no uso da terra diminuiriam em 96%, mitigando cerca de 44% do todas as emissões brasileiras.
É na Amazônia que ocorre a maior parte das emissões do Brasil por mudança de uso da terra. Em 2019, segundo a análise desenvolvida pelo SEEG, o CO2 emitido pela floresta foi 10 vezes maior do que o observado no Cerrado, que tem uma área duas vezes menor. O padrão pode ser observado na lista de municípios que mais emitiram gases de efeito estufa, composta por municípios do Pará, Roraima, Rondônia e Amazonas.