Por Rogério Fernandes
Apesar de todas as dificuldades inerentes ao país, acredito que o brasileiro é um povo extremamente criativo, e o melhor, nas mais diversas áreas. Entre tantas outras, as invenções do avião e até mesmo do soro antiofídico são apenas alguns exemplos que não me deixam mentir.
Mas e se eu te disser que no agronegócio, segmento em que o Brasil ostenta liderança mundial, também há pessoas daqui envolvidas em uma inovação incrível que ajuda na preservação do meio ambiente? A criação da primeira embalagem de defensivos agrícolas produzida a partir de resina reciclada pós-consumo é fruto do trabalho árduo de um grupo de brasileiros, que tive orgulho de liderar.
Contudo, se hoje a ideia de uma embalagem reciclada para defensivos agrícolas é reconhecida como um “case” de inovação e copiada em vários países, logo que foi apresentada, décadas atrás, o projeto foi considerado tecnicamente inviável e fora de propósito. Eu, pessoalmente, integrei um grupo de trabalho que foi até a Alemanha para demonstrar o projeto e, após a apresentação, ouvimos um sonoro “vocês estão loucos?” para as nossas pretensões. A verdade é que ninguém acreditava que esse material poderia passar por um processo de reciclagem e voltar ao mercado como um novo produto.
Ouvimos inúmeros questionamentos sobre a viabilidade do projeto, por conta de suas especificidades, e mais, em muitos momentos não nos davam sequer a oportunidade de discorrer profundamente a respeito, já descartando a ideia quase de imediato, como se ela fosse absurda.
Ainda que tenhamos enfrentado incisivas negativas de vários dirigentes da indústria, seguimos em frente com nossas pesquisas até provar que sim, seria possível! E o tempo provou que estávamos certos.
Desde 2006, o Brasil se tornou referência mundial na reciclagem desses materiais, e atualmente, 97% das embalagens vazias pós-consumo são devidamente recolhidas pelo Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (inpEV) e posteriormente recicladas. Em um momento em que a sustentabilidade é uma preocupação global, esse número representa o quanto estamos contribuindo com o meio ambiente.
No Brasil, em 20 anos, de 2002 a 2022, mais de 650 mil toneladas de embalagens já foram recicladas, evitando a emissão de mais de 899 mil toneladas de gases do efeito estufa, o que corresponde a mais de 15 viagens em torno da Terra, de caminhão.
Esse movimento todo colocou o Brasil à frente de muitos países quando o assunto é economia circular. Afinal, essas embalagens são totalmente recicláveis, e podem voltar para o mercado, o que transforma resíduos em novos produtos, fechando o ciclo de vida das embalagens.
Países como Austrália e Argentina estão utilizando o Brasil como referência para implementar sistemas semelhantes. Nosso modelo tem sido replicado para garantir que as embalagens também tenham uma destinação correta e sustentável em outras partes do mundo. O que começamos há mais de uma década agora está servindo de inspiração global.
Desde 2008, a Campo Limpo Plásticos, sediada em Taubaté (SP), e com uma filial em Ribeirão Preto, é a responsável por produzir as embalagens plásticas de defensivos agrícolas feitas a partir de resina reciclada pós-consumo. Desde então, mais de 170 milhões de unidades dessas embalagens já foram produzidas.
Mas, por que reciclar essas embalagens é tão importante?
O descarte indevido das embalagens de defensivos agrícolas pode acarretar graves problemas de poluição ambiental, tais como contaminação de solos, mananciais superficiais de água e lençol freático, afetando a saúde humana ou provocando a contaminação indireta do ambiente. Em resumo, pode-se dizer que os resíduos de defensivos químicos, bem como suas embalagens, são nocivos ao meio ambiente quando descartadas de maneira incorreta. Por isso, o trabalho de reciclagem dessas embalagens é tão importante
A Logística reversa tornou-se uma atividade econômica de grande importância, tanto para a sociedade como para o meio ambiente. O contexto da recuperação dos produtos descartados de forma consciente, com sua reintegração ao ciclo de novos produtos, é uma estratégia perfeita quando se discute os caminhos sustentáveis que o mundo tem buscado seguir.
No caso das embalagens de defensivos agrícolas, pelo fato de a imensa maioria ser feita de plástico, produto derivado do petróleo, a reciclagem poupa à utilização desse recurso não renovável e que sofre uma demanda gigantesca. Além de diminuir a poluição, traz uma nova perspectiva para as gerações futuras.
Rogério Fernandes é bacharel em Física, pós-graduado em Engenharia de Embalagens e Diretor de Operações da Campo Limpo Plásticos