O mercado de commodities agrícolas está estritamente ligado aos padrões climáticos, como La Niña e El Niño, devido ao impacto destes na oferta dos produtos. A depender do estado de desenvolvimento da safra em questão, esses fenômenos climáticos podem tanto beneficiar quanto prejudicar o rendimento do produto agrícola. O tema é abordado em relatório pela Hedgepoint Global Markets.
“De fato, em nossos últimos relatórios já mencionamos alguns dos impactos que podem ser trazidos pela transição do fenômeno El Niño para o La Niña. Assim, neste relatório nosso objetivo é aprofundar um pouco mais nos possíveis cenários e riscos para o setor sucroenergético com essa mudança climática”, diz Laleska Moda, analista de Inteligência de Mercado da Hedgepoint.
“Primeiramente, é importante destacar que houve uma mudança nas expectativas iniciais, com a transição do El Niño para La Niña devendo ocorrer um pouco mais tarde do que o previsto, no final do 2T para o início do 3T. Com isso, o La Niña deverá ter seu maior efeito no 3T, trazendo algumas mudanças nos possíveis impactos nas lavouras de cana e beterraba açucareira”, destaca.
“Antes de discutirmos os possíveis efeitos do La Niña é importante entender as condições ideias de cultivo da cana-de-açúcar e beterraba, as matérias primas na produção de açúcar e etanol. Ambas as culturas necessitam de chuvas no período de desenvolvimento, porém, enquanto a cana é adequada para climas subtropicais, a beterraba é típica de climas temperados, tolerando menores temperaturas”, explica a analista.
Ainda assim, condições extremas (seca, calor e frio) afetam a produtividade dessas culturas. Como exemplo em 22/23 tanto a produção do Brasil como da UE oram afetadas por secas no verão e um inverno mais rigoroso.
“Portanto, entender quais as mudanças climáticas trazidas pelo La Niña e em qual período – uma vez que cada país e região tem seu calendário de safra – pode nos trazer algumas perspectivas para os próximos meses”, explica.
Um evento La Niña se caracteriza pela diminuição da temperatura da superfície das águas do Oceano Pacífico Tropical Central e Oriental e pela consequente intensificação dos ventos alísios, que empurram ainda mais água quente para a Ásia, reduzindo significativamente a temperatura da costa oeste das Américas.
Mas então, quais seriam os efeitos de um La Niña na produção de açúcar ao redor do globo?
Brasil: “No País, um evento moderado tende a trazer um inverno mais seco no Centro Sul, podendo beneficiar a colheita da safra 24/25”, acredita. Entretanto, um La Niña mais intenso poderia trazer geadas e incêndios levando à rendimentos mais baixos e aceleração do ritmo de moagem. Além disso, caso o período de seca se estenda durante a primavera – uma vez que o La Niña deve ser mais intenso no 3T – o desenvolvimento da temporada 25/26 poderia ser prejudicado, assim como em 20/21, quando o Brasil registrou moagem de apenas 523Mt.
Índia: “Um La Niña moderado traz a chance de um período de monções favorável”, observa. O governo Indiano inclusive apontou recentemente que a maior parte do país provavelmente receberá monções acima da média, o que deve auxiliar no desenvolvimento da safra açucareira de 24/25. No entanto, se muito intenso, pode trazer inundações.
Europa: “De forma geral, os padrões climáticos têm pouco efeito e correlação com precipitações e temperaturas no bloco, sendo que tanto um La Niña ou um El Niño podem ser responsáveis por um leve aumento na precipitação entre março e agosto, podendo favorecer o estágio de desenvolvimento da beterraba”, aponta. Entretanto, um evento La Niña pode levar à menores volumes de precipitações durante setembro a novembro, durante o pico de colheita da beterraba, o que pode auxiliar nos trabalhos de campo.
América Central: “Um La Niña moderado tende a intensificar as chuvas durante a fase de desenvolvimento da cana (junho a setembro), podendo ser benéficas para a produção, caso não sejam em excesso. Neste último cenário, as precipitações podem atrasar ou atrapalhar o ritmo da safra, além de poderem reduzir o teor de sacarose”, destaca. Além disso, vale destacar que o evento pode intensificar temporada de furacões na região, potencialmente trazendo danos às lavouras.
Tailândia: “O La Niña tem baixa correlação climática com o nível de precipitações e temperatura no país entre setembro e novembro, mas, caso muito intenso, poderia levar à menores níveis de chuvas”, analisa. A maior correlação do evento, no enteando, ocorre entre março e maio, podendo trazer seca justamente no período de colheita na Tailandia, o que beneficiaria as atividades.
Em resumo, eventos climáticos como o El Niño e La Niña tendem a trazer impactos (positivos ou negativos) na produção commodities agrícolas, como o açúcar. Os próximos meses serão justamente marcados pela transição – ainda que mais tarde do que prevista – do primeiro evento para o La Niña.
Os impactos desse evento na produção açucareira variam de região para região e pela intensidade do fenômeno. Um La Niña moderado pode beneficiar a produção de açúcar trazendo um inverno mais seco no CS e uma estação de monções acima da média. Porém, se muito intenso, pode provocar inundações e reduzir a incidência de luz solar no Hemisfério Norte, intensificar temporada de furacões na América Central e ameaçar o desenvolvimento da safra 25/26 no CS.
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Foto divulgação: Grupo Maringa