Mercado agrícola: impactos do clima e tensões comerciais no radar

Análise da Hedgepoint Global Markets destaca influência do clima e da geopolítica nos preços da soja, milho e trigo

Mercado agrícola: impactos do

O mercado global de commodities agrícolas inicia fevereiro atento a fatores climáticos e geopolíticos que podem impactar as cotações da soja, milho e trigo. Segundo análise da Hedgepoint Global Markets, assinada por Luiz Fernando Roque, coordenador de Inteligência de Mercado, e Ignacio Espinola, analista sênior, a normalização das atividades na China após o Ano Novo Lunar, as condições climáticas na América do Sul e o risco de novas tarifas comerciais dos EUA estão entre os principais pontos de atenção do setor.

Cenário climático: chuvas aliviam, mas riscos persistem

Na América do Sul, as recentes chuvas trouxeram algum alívio para Argentina e Brasil. No entanto, temperaturas acima da média podem comprometer parte das lavouras de milho e soja. No Brasil, a colheita da soja e o plantio da safrinha de milho avançam, mas ainda com atrasos devido ao plantio tardio da soja em 2024, principalmente no Centro-Oeste e Sudeste.

“No período entre 5 e 13 de fevereiro, a previsão aponta chuvas moderadas na faixa central do país, favorecendo os trabalhos de colheita e plantio. Já entre 13 e 21 de fevereiro, a umidade deve aumentar, beneficiando lavouras semeadas mais tardiamente, mas podendo dificultar a colheita”, explica Luiz Fernando Roque. O Mato Grosso se destaca com produtividades recordes, enquanto o Rio Grande do Sul segue impactado pela seca e calor intenso.

Na Argentina, apesar das chuvas recentes, os danos da seca foram irreversíveis em algumas regiões. Analistas reduziram a estimativa da safra de milho para 47 milhões de toneladas, 4 milhões a menos que a projeção do USDA. A soja também teve suas projeções revisadas para baixo, passando de 52 milhões para 48 milhões de toneladas.

Geopolítica e tarifas: possível nova guerra comercial?

No cenário internacional, os prêmios climáticos seguem relevantes, mas a geopolítica também assume protagonismo. O ex-presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou novas tarifas para México, Canadá e China, reacendendo temores de guerra comercial. Em resposta, a China impôs tarifas entre 10% e 15% sobre produtos dos EUA, como petróleo e gás natural.

Embora a soja norte-americana ainda não tenha sido afetada, o mercado permanece em alerta. “Caso as tensões entre China e EUA se intensifiquem e a soja dos EUA volte a ser tarifada, poderemos ver um cenário semelhante ao de 2018/19 e 2019/20, quando os estoques norte-americanos dispararam e os preços caíram. O Brasil se beneficiou na época com maior volume de exportação para os chineses, o que pode se repetir”, avalia Luiz Fernando Roque.

O USDA projeta que os EUA exportarão 49,7 milhões de toneladas de soja na safra 2024/25, com estoques finais estimados em 10,3 milhões de toneladas. Caso o mercado sofra novas sanções, os números podem mudar drasticamente.

Movimentação do trigo e impactos na China

No mercado de trigo, a China tenta vender 600 mil toneladas compradas da Austrália e do Canadá, sendo que 240 mil já foram embarcadas. “O governo chinês busca vender ou adiar a entrega do restante, o que pode indicar menor demanda devido à boa safra de milho ou à expectativa de preços mais baixos no mercado à vista”, analisa Ignacio Espinola.

Em 2024, a China importou 1,7 milhão de toneladas de trigo da Austrália e 923 mil toneladas do Canadá, volumes menores do que em 2023. Esse movimento pode se repetir com outras commodities, como milho e soja, exigindo atenção do mercado.

Perspectivas para os fundos de investimento

Nas últimas três semanas, os fundos de investimento mantiveram uma posição neutra na soja, refletindo a incerteza climática na América do Sul. Para o milho, a visão do mercado é altista, com os fundos aumentando suas posições compradas para 208 mil contratos, o maior volume desde fevereiro de 2023.

“O foco permanece na Argentina, onde as chuvas trouxeram algum alívio, e no Sul do Brasil, onde o prêmio climático seguirá relevante. Além disso, as ameaças de tarifas de Trump geram incertezas para traders e o mercado”, conclui Ignacio Espinola.

A análise da Hedgepoint Global Markets reforça que os players do setor devem monitorar atentamente os desdobramentos climáticos e geopolíticos nas próximas semanas, que podem influenciar os preços e as exportações de grãos globalmente.


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